Síndrome de
Li-Fraumeni
A síndrome de Li-Fraumeni (SLF) é uma síndrome de predisposição ao câncer, de caráter autossômico dominante, associada a um alto risco para um espectro diversificado de tumores, começando ainda na infância.
A síndrome ocorre devido a mutações no gene TP53. A maioria das pessoas com a SLF herdaram a mutação do pai ou da mãe. Essas mutações são germinativas, que são aquelas que estão presentes nos espermatozoides ou óvulos que formaram o indivíduo, ou seja, são mutações hereditárias.
Cerca de 7 a 20% dos casos de SLF são devidos a uma mutação nova, que é aquela em que uma variante genética está presente pela primeira vez em um membro da família.
A SLF é uma condição autossômica dominante, sendo assim, tanto aqueles indivíduos que herdaram a condição do pai ou da mãe, quanto os que tiveram uma mutação nova, tem um risco de 50% de passar a mutação para os filhos.
O gene TP53 fornece instruções para a produção de uma proteína chamada proteína tumoral p53 (ou p53). Essa proteína atua como uma supressora tumoral, o que significa que regula a divisão celular, impedindo que as células cresçam e se proliferem muito rapidamente ou de forma descontrolada.
Cinco tipos de câncer são responsáveis pela maioria dos tumores LFS: câncer de mama carcinomas adrenocorticais, tumores do sistema nervoso central, osteossarcomas e sarcomas de tecidos moles.
A síndrome também está associado a um risco aumentado de outros cânceres, incluindo carcinoma de plexo coróide, leucemia, linfoma, câncer gastrointestinal, câncer de cabeça e pescoço, rim, laringe, pulmão, pele (por exemplo, melanoma), ovário, pâncreas, próstata, testículo e tireóide.
No Brasil, uma alta prevalência de LFS está presente devido a uma mutação de efeito fundador. A mutação germinativa TP53 (c.1010G> A; p.R337H) está presente em 0,3% dos indivíduos das regiões Sul / Sudeste, e estima-se que mais de 300.000 brasileiros tenham LFS.
O espectro de cânceres visto mutação p.R337H é semelhante ao visto em outras mutações, porém observa-se uma maior ocorrência de câncer papilar de tireoide em adultos jovens, câncer renal e adenocarcinoma de pulmão.
A penetrância do câncer antes dos 30 anos na mutação p.R337H é estimada em 15% a 20%, enquanto nos portadores de mutações clássicas é de 50%.
Os cânceres de mama, na mutação fundadora p.R337H, ocorrem em uma idade média de 40 anos e nas portadoras das mutações clássicas a idade média de início é de 32 anos.
Outras diferenças observadas são que os carcinomas adrenocorticais representam mais de 8% de todos os tumores em portadores de p.R337H em comparação com 4% e a idade de início do tumor é mais tardia quando comparado com as mutações clássicas.
Deve-se suspeitar de SLF em indivíduos que atendem aos critérios Chrompret:
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Mulher com câncer de mama antes dos 31 anos.
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Indivíduo com um tumor pertencente ao espectro de tumores da Síndrome de Li-fraumeni (por exemplo, câncer de mama na pré-menopausa, sarcoma de tecidos moles, osteossarcoma, tumor do sistema nervoso central e carcinoma adrenocortical) antes dos 46 anos E pelo menos um parente de primeiro ou segundo grau com tumor do espectro da SLF (exceto câncer de mama se o probando tiver câncer de mama) antes dos 56 anos ou com tumores múltiplos; OU
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Indivíduo com múltiplos tumores (exceto múltiplos tumores de mama), dois dos quais pertencem ao espectro tumoral SLF e o primeiro ocorrido antes dos 46 anos; OU
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Indivíduo com carcinoma adrenocortical, tumor do plexo coróide, ou rabdomiossarcoma do subtipo anaplásico embrionário, independentemente da história familiar.
Uma pessoa com suspeita de SLF deve ser encaminhada ao aconselhamento genético. Ao ter a SLF confirmada, é recomendado que os familiares também sejam avaliados em uma consulta com o médico geneticista.
Os pacientes e os familiares com a Síndrome de Li-Fraumeni seguem em acompanhamento com o médico geneticista, sendo esse um membro da equipe multidisciplinar permanente que deve acompanhar o paciente.
REFERÊNCIAS:
AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGISTS. Hereditary Cancer Syndromes and Risk Assessment. ACOG. Washington, DC, 2019, p. 143-149. Disponível em: https://www.acog.org/-/media/project/acog/acogorg/clinical/files/committee-opinion/articles/2019/12/hereditary-cancer-syndromes-and-risk-assessment.pdf
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